domingo, 22 de abril de 2012

DILENE, MAS BEBEL PRÓ RAFAEL...

                                 FOTO ARQUIVO PESSOAL 2001

 Quando chego ao Quintal parece que tem um misto de alegrias e excitação nos olhares alheios e também do pessoal lá trabalhando defendendo o seu pão de cada dia...Sinto que me respeitam,sem distinção de minha cor,ou de meus ainda bonitos cabelos lisos..Sinto que alguns voam em respiração,outros parecem me imaginar em histórias de quadrinhos ou enquanto o sono não vêm,imaginam que eu esteja em seus braços sendo possuído com força ou também possuindo com tara e depois caindo de prazer no lado da cama ouvindo ao longe aquela antiga música de saudade. Corações batem descompassados e estou tão romântico quanto uma torneira aberta ao escovar os dentes pela manhã fria. É tão grande o silêncio ao qual estou submetido que sou capaz de ouvir os estampidos das tampinhas que freneticamente caem pelo chão do Quintal e no copo de água em que joguei uma pastilha de Vitamina C, pois tomei uma forte chuva e não quero ficar gripado. Todo início de ano é assim. As pessoas esperam mudanças e continuam fazendo as mesmas coisas. O mundo parece fora de ordem. Não entendo mais aqueles carcarás, mas não me sinto velho o suficiente para recriminá-los. Os tempos são outros, mas Flor, Thiagona, Bibi e uma galera não mudam. - Tenho uma medalhinha japonesa pendurado no meu pescoço no lugar de um crucifixo que ganhei da minha irmã já falecida. Dizia ela, um pouco mais calma para nós noutra mesa... - Vai sua bicha feia encher o saco de outro. Rafael é homem, luta caratê e se estivesse aqui te enchia de porrada... - Toma no seu cú bicha feia... Faz menção em chutar a bundona de Thiagona que fica azarando a coitada daquela mulher de boca murcha, quase sem dentes que fala torto parecendo palitar um buraco na boca o tempo inteiro e é reconhecida por todos ali na região da Praça Raul Soares... Faz pose tiramos fotos e começo a filma-la...Fiz algumas cenas que é muito engraçado e me fortalece a ideia de que todo mundo é carente e necessitam de afeto e carinho... MARCOS, um amigo do Marquinhos com muito jogo de cintura acalma aquela criatura quase que insana, mas prá lá escolada e antenada. Bebel trajando um casaco cor de creme apertado com um laço enorme e solto puxava toda hora sem cessar. Botões frouxos, usando uma calça daquela de mocinha bem colada, bem colorida de florzinha feito primavera, num sapatinho de plástico que muito lembraria a Emilia do Sitio do Pica Pau Amarelo as avessas....E as vezes apareci algo que poderia ser também um bustiê. - Cala boca seu jacu me deixa falar... Repetia toda hora... Queria ser o centro das atenções. Rafael é de São Paulo, torce pelos Santos do gostoso do Neymar... E fala que gosta de Luan Santana e Fuik. Passa um rapaz cabeludo, alto e ela se esbalda. Fica toda toda,mexe com ele que continua a caminhar. - Isto que é homem, coisa linda... E solta gargalhadas ingênuas e pura raridade no olhar. Marcos e Marquinhos, Eu e Rogerinho caímos na risada o tempo todo. Como a noite esteve divertida... Do lado de lá Flor e Thiagona continuava a encher o saco da mulher que se diz vender calcinha e sutiã que pega no Shopping Tupinambás e vende lá no Santa Inês onde mora sozinha numa barracão que ganhou de um político... Uma bolsa colorida em listas vermelhas, brancas e pretas parecia cheia de algum apetrecho que ela não deixou que nós víssemos,estaríamos invadindo sua privacidade. Na outra mão, bem em cima no antebraço, segurava uma sacola incolor parecia ter pães velhos e alguma coisa que seria a refeição daquela criatura que se diz Evangélica, mas manda o povo tomar no cú, as mulheres na buceta, mostra levantando a roupa e não havia quem no Quintal que não sorria. - E toda vez que oro para ele, incluo uma nova questão. “Por favor, senhor me dê uma luz no meio dessa confusão. Por onde devo ir?” E ouço apenas uma voz interna me dizendo: “Tenha calma. Mantenha sua postura, mantenha seu território, não é hora de confrontos e nem de movimentos bruscos. As pessoas estão tão distraídas que nem vão notar se você for comprar um guaraná e nunca mais voltar”. Diz ela em tom de orgulho em relação ao Rafael que trabalha em Betim, mora em Contagem e se Deus quiser vamos casar. Rafael segundo ela tem só 21 anos. Bebo mais um gole de cerveja e quase mijo na calça de tanto rir, os caras continuam a zua-la,que pega caixa de papelão e papéis e joga neles Levanto vou ao banheiro, me olho no espelho e vejo as olheiras que me incomodam e meu rosto marcado. Estou mais magro, meu olhos tem uma luz diferente, não me sinto deprimido embora conviva com uma angustia latente e constante antes de assentar naquela mesa com os meninos. Contudo, agora sou mais capaz de administrar minhas crises internas e tiro sarro de meus fantasmas e de minhas hipocrisias. É isso que eles chamam de amadurecimento? Minhas ambições são pequenas. Quero apenas pagar minhas dividas, escrever alguma coisa, estar com meus amigos nos finais de semana e continuar na luta e quem sabe ir embora deste País... Se eu conseguir o visto americano, jurei que darei um tempo disto aqui.,deixando bibas,assanhaços,carcarás,ratos,amigos,cachorros e uma porção de filhos da puta com saudade,pois sei que passarei como nuvem deixando um vazio naquele Quintal. Quero que meus amigos saibam o quanto os amo e quero aprender a lidar com as mudanças que estão batendo em minha porta. Paciência nunca é o forte de um ansioso, mas é preciso desenvolvê-la. Essa quantidade de informação que consumo como se fosse cocaína, me faz tão mal quanto a própria droga. Os transtornos no meu sistema nervoso central são equilibrados por algumas besteiras que escrevo ou digo que estabilizam meu mau humor, minhas intermitências e eventualmente preciso de uma receita azul para evitar o descontrole. Isso não é uma informação relevante – diria o Elói que se acha que tudo se resolve com remédios, preocupado com o que possam dizer a respeito de uma dependência química crônica que alguém desenvolveu com anos de consumo de medicamentos produzidos por laboratórios que lucram com as novas doenças do século XXI. E Dilene nos divertindo em poses e caras, sempre afirmando que não é vagabunda e que a Rosa que trabalha no Hi Fi é cornada e também bota chifre no coitado do marido...E ela conhece o ex dono do bar,a mulher dele que trabalha durante o dia e todos ali...Já vendeu Avon e só usa perfumes de marcas sabendo até citar as cores das pedras do anel que usava no polegar da mão esquerda... Seria melhor falar das conquista nas igrejas, onde os pastores roubam menos a igreja dela, dos lucros, dos números, todavia, quem se importa comigo agora, dizia ela em frenesi diário, acreditar nesta beleza aqui? Como estrategista, preciso estar atento aos movimentos, mas estes movimentos que tenho acompanhado estão tão distantes do que sonhei por um mundo melhor quando era mais jovem. Não cometerei o erro básico de condenar a quantidade de inutilidades que estão sendo catalisadas e consequentemente potencializadas por Flor e as meninas de férias com o celular a disposição vinte e quatro horas por dia. Acompanhá-los em suas odisseias de dedicação por senhores desprevenidos e devoção aquele homens que os ostentam como troféu, chega me dar um embrulho no estômago. Mas quem sou eu para julgá-los? Não posso utilizar minha experiência e meus conhecimentos para crer que tenho o direito de dizer que estão errados. É o mundo deles. Não faço parte do mundo deles, mesmo que às vezes tivesse o interesse de fazer, nem que fosse para entender a motivação naquela mesa tão cheia de coisa ruim. Tenho pensado muito sobre o como manter minha disciplina e fazer com que minha saúde mental e física suporte tantas atividades com as quais preciso me envolver para não enlouquecer. E ao olhar para o lado, do que tenho que reclamar? De nada. Meu pau funciona direito, sei pintar telas e camisetas, tenho capacidades artísticas que pode me render dinheiro por mais duvidosas que possam ser julgadas, pessoas que me seguem, me leem, me admiram, me respeitam. Tenho meus inimigos, que apesar de tudo já entenderam quais são os meus objetivos, e inimigos que se respeitam podem continuar inimigos leais. Tenho até uma divida particular que me persegue há quase três anos e vive em minha vida paralela.Nesse momento onde a estética regente não serve a mim nem para ser criticada, me cabe umas férias, mas quem disse que consigo me desligar? Sou um viajante. Um homem que precisa estar em constante movimento. Uma cabeça que não consegue ficar estagnada num só pensamento e me alimento da liberdade que lutei para conquistar. Tem muitos fatores que precisarei editar nesse texto para poupar pessoas que amo e tenho carinho e respeito. Mas o mundo não acabará em 2012. Tem médico exibindo um mar de futilidades solitário. Tem enchentes que se repetem todos os anos e deixam a morte de cabelo em pé para dar conta de tanta alma. Tem centenas de bandeiras políticas importantes das quais poderia me vestir para andar nu ao relento do desinteresse coletivo, mas por incrível que pareça, também tem muita gente que me para no bar para falar sobre sua admiração por minhas opiniões e algumas de minhas ações que de alguma forma provam que leiam essas besteiras que escrevo. Sou ex-refém de um amor que acabou há quase três anos, mas que pelo visto deixou uma marca nessa história louca com a qual me envolvi e tem um show de suposições alheias que marcou aqueles que me conhecem. Boas perspectivas me aguardam para o resto do ano, mas ainda fico puto quando confiro meu saldo bancário na hora que acordo e vejo como as coisas caminharam para um universo tão vazio e negativo, sem uma saída, já que na agência não dá mais e não tenho futuro. Os piadistas se multiplicaram na velocidade de pestes que disseminaram civilizações antigas. Todos muito irônicos e engraçados, com suas tiradas sensacionais e que me dão vontade de enfiar o dedo na garganta. Sou o oposto do que eles querem ser e logo, muitas vezes alvo de alguns desavisados. Mas não tenho mais motivação para responder. Satisfaço-me apenas em ignorar. -Não enche o saco, pois o Rafael é homem, não é bicha repetia aquela mulher de 1.50 e alguma coisa de altura, que balançava feito bananeira em noites de ventanias a beira da estrada. Se ela tivesse colocado aquele silicone Frances que agora descobriram que pode gerar danos nos lindos seios das mulheres que terão de fazer um Recall, talvez tivesse algo mais atual com o que se preocupar. Mas atitudes continuam sendo iguais e a tendência é que esse povinho hipócrita, sujo e gordo afogue todas as esperanças em curto prazo de que surja algo legal para ser comido e admirado nas noites do Quintal. Sou capaz de lidar melhor com essa possibilidade hoje curtindo o vazio, e a quase intimidade de Bebel. Por fim, não há muito que fazer agora, senão imaginar o que escrever. Há tempos em que o melhor e ficar apenas observando e tentando produzir o máximo de novidades que lhe refresquem a alma, caso isso seja Possível. Fico na espera de um milagre. Mas milagres dependem de nós! E minha vida há de saber disto...
Até mais tarde...

Uschuaia Dean, 12 de janeiro 2012 – 02h46.

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