quinta-feira, 29 de março de 2012

O MARTIRIO DE NININHA




Nininha havia partido à exatos 13 anos
Sem parada certa, seguiu rumo a América.
Saíra do convívio com os filhos.
De seu porto seguro em busca de algo que acobertasse as decepções e magoas com o ex-amor.
Não conseguia mais esconder-se atrás das cortinas escuras da sala de estar toda vez que o marido traidor retornava do trabalho.
Só sentia algo latejar dentro de seu peito. Muita raiva, ódio e derrotada.
Atormentada!Desesperada até perdoava, mas não tinha como, já havia perdido tudo que tanto cuidou.
Não conseguia identificar mais quem era aquele homem que um dia a beijava com ternura.
Mas a vergonha insistia em bater à sua porta.
E arrasada com aquelas cenas de alguns dias ainda vivas em sua cabeça não encarava a vizinhança.
Coração ferido, alma morta. Ed sua paixão a feriu para sempre.
Fez as malas. E na ânsia de partir largou a boa vida de esposa de médico nem deixando recados.
Correu para fora daquela casa que conhecia tão bem, mas que ficara pequena para ela.
Não viu a noite chegar e nem o sol brindar no novo dia prostada na poltrona de um avião
Quando percebeu, havia partido e sentiu que sofrera dias, meses, anos na cidade Americana.
E nesse caminhar, sentiu a magia das cores, da liberdade, da contraditoriedade dos sentimentos, dos efeitos colaterais, do vazio, do inferno.
Dos encontros e desencontros, das descobertas de um novo amor que nunca aceitara...
Caiu muitas vezes. Chorava e quando se levantava, ia curando as feridas.
Sentia-se como uma borboleta saindo do casulo.
Louca para descobrir no mundo outro alguém que a fizesse esquecer o passado.
Não dava e sofria com a ausência dos filhos.
Mas sem o pai destes filhos a vida não seria canção, nem tinha emoção, apenas decepção.
Deixou-se levar pelo vento, pelos cheiros, pelo frio e a neve que trazia imensas saudades.
Treze anos. Fazia exatos treze anos que ela havia partido e tudo aqui havia mudado.
Recordava a antiga casa, sem saber que os velhos retratos já estão em caixas escuras no fundo do guarda roupa com a filha Nina que a ouve muito pelo telefone.
O pó tirado dos móveis com perfeição com óleo de peroba e o cheiro gostoso do biscoito de polvilho assado na hora ainda são doces recordações.
Gostava de agradar o Doutor também torturado por saber que a condição sexual era outra.
Poderia está igual imaginava...
Mas ao mesmo tempo tão diferente sabia que seu marido não mais a pertencia.
Foi ali que Nininha entendeu que por mais que o tempo tivesse passado nada mais seria como antes.
Muito menos ela, que agora descobria em si, uma nova forma de enxergar o mundo.
Transformara-se em outra pessoa. Mais triste. Porém mais centrada, menos feliz quem sabe!
Por isso, ela sabia, bem lá no fundo...
Que a decepção de pegar o marido na cama com um homem havia começado todo aquele inferno.
Que ela estava só de passagem como as flores na primavera...
Como nuvem que abre espaço para a chuva gostosa de verão...
Como os pássaros que anunciam que é chegado o entardecer...
E como a Fênix, que precisou morrer para ressurgir das cinzas.
Mais forte, mesmo infeliz, talvez, ela retornou!

- E voltou para amar os netos que nem sabia da existência da vovó...

GUTO DE MOURA, 06 DEZEMBRO 2011.

*Essa história é real, aconteceu em Valadares com uma família tradicional, por motivos óbvios e para salvar minha pele, os nomes são fictícios. E o Ed hoje é frequentador assíduo do HI FI.
Uschuaia Dean

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