segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

SEUS CABELOS BRANCOS...

                                     
                                   SEUS CABELOS BRANCOS...

Aos amigos hoje e ao Senni dedico esse conto e a certeza que para tudo existe um recomeço... É exemplo para mim que vivo uma fase complicada, delicada, mas na luta por dias melhores.
Meu amigo Senni faço essa homenagem baseado na sua vida imaginada, poderia ter sido a sua realidade, a minha de tantos amigos.

         SEUS CABELOS BRANCOS conta a história de um rapaz que, na primavera da vida, apaixona-se por um homem bem mais velho e decide reencontrar o inverno ao lado dele.

  ... O ENCONTRO

Senni sentia-se sozinho e chateado naquela tarde de sábado. A cabeça estava na mãe doente e na vontade de está com uma pessoa especial. Queria conversar com alguém. Por isso entrou na internet, naquela sala de bate papo. Então ele apareceu. Entrou como Anônimo. Foi direto ao dizer que procurava conversas, mas Senni queria papos excitantes e sexo virtual. Roberto não chegou a se escandalizar, pois não era o primeiro deste tipo que encontrava. Fosse noutra ocasião provavelmente teria corrido. Mas até dar assunto para um conquistador internético era melhor do que continuar sozinho naquela primavera.
Senni insistia em seu propósito. O anônimo esquivava-se, sem, entretanto, lhe dizer um não direto. Envolveu-o num jogo de oferecer e negar, de atiçar e recuar que o seduziu ao mesmo tempo em que se sentia seduzido... Quando ele saiu da sala virtual, Senni continuou pensando nele... Percebeu-o um homem culto, inteligente e perspicaz. Imaginou aqueles cabelos, o corpo pedindo afeto e carinho, um senhor que mexesse com o libido e o fizesse feliz para sempre. Teria gostado de conhecê-lo melhor. Quem seria ele? Explicara que usava de reservas porque era casado e não revelar essa atração que tem pelo mesmo sexo... Mas seria só isso?
Como Senni frequentava a sala de chat sempre com o mesmo Nick, dois dias depois, ele reaparece na sala e fala com ele. Conversaram como velhos amigos e quando ele se vai, a impressão inicial se confirma: dava-lhe imenso prazer teclar com o anônimo.
E houve um terceiro, e um quarto encontros. O clima de reservas, mas de muita sinceridade, mantinha e atiçava o interesse. Era excitante invocar a fantasia para tentar adivinhar quem poderia ser aquele homem que chegava carinhoso, carregado de tulipas virtuais, e se mantinha no anonimato...
Aos poucos vêm à tona algumas informações deles, mas respeitavam-se, não perguntando mais do que o outro contava, apesar de se terem dito mutuamente que gostariam de se conhecer melhor! As conversas eram prazerosas, para ambos, que sabiam usar de sutileza e sensibilidade, jogando com palavras e com emoções.
Mas um dia Senni deixou escapar uma informação sobre sua cidade, e ele começou a fazer perguntas, e acabou que se apresentaram: Roberto, aposentado, 70 anos. E também se apresenta: Senni, Comerciário, 25 anos. Eram da mesma cidade o que facilitou o papo.
Pronto, acaba-se o mistério! Só que o encanto não. Os encontros continuaram acontecendo, agora mais explícito um perguntando para o outro aquilo que antes ficara em aberto, desfazendo as dúvidas, preenchendo as lacunas... E foram se conhecendo cada vez mais. O prazer, então, consistia no desvendamento mútuo. E cada vez mais um gostava do que via no outro...

   ...O MUNDO VIRTUAL.

Os encontros virtuais entre Senni e Roberto aconteciam nos intervalos de tempo que ele dispunha no trabalho, ou em casa, nas ausências da família. Senni acessava apenas de casa, onde trabalhava não havia jeito, e na ausência do chefe, tentava acessar, mas não encontrava Roberto. Nem sempre os horários combinavam. Era uma limitação, mas o desejo de estarem juntos e conversarem, fez que criassem uma nova rotina, e o intervalo do horário de almoço se tornou o momento de encontro...
Nestas ocasiões, o tempo lhes parecia adverso. Os minutos voavam sem que eles se dessem conta. Os assuntos eram inesgotáveis. Sempre havia algo mais a comentar, a esclarecer, a indagar. E as despedidas, então, sempre um queria dizer um tchau a mais, fazer uma recomendação, expressar uma frase de carinho...
Como aliados fiéis contavam com o correio eletrônico, que conduzia rapidamente as mensagens, permitindo que em tempo real pudessem manifestar um ao outro os sentimentos que afloravam. E o telefone, no qual se falavam regularmente.
E, além destas ocasiões, em qualquer tempo, havia o pensamento que frequentemente voava direcionado de um para o outro.
Se não bastasse o pensamento informal, adotaram outros sinalizadores para ativar a lembrança e o encontro mental. A lua cheia era um. Quando olhavam o céu com a lua brilhante e majestosa, sentiam-se unidos, onde quer que estivessem, sob a mesma paisagem e mesmo pensamento.
Tulipas era outro sinalizador. Senni, que até então nunca havia reparado na existência daquela bela e sofisticada flor, passou a notá-la e admirá-la depois que Roberto começou a cobri-lo de tulipas virtuais quando chegava para falar com ele e a dizer que via na flor a imagem de seu bem-amado.
Logicamente que, entre tantos outros assuntos, falavam da possibilidade de um encontro real, mas ainda como um sonho, apesar de plausível, pois a distância geográfica entre eles era de menos de 200 km, irrisória para os tempos atuais.
Cada vez que Senni embrenhava para esse lado, Roberto evitava o assunto e ignorava a proposta. Não se sentia ainda preparado e por isso adiava a possibilidade de se encontrarem frente a frente para um futuro, talvez não tão próximo...
E assim, enquanto as coisas não se encaminhavam para o presencial, a imaginação e a fantasia faziam a festa no virtual...

... SEXO VIRTUAL.

Senni pensava em Roberto constantemente. Ele passara a fazer parte de sua vida e de seus pensamentos, de seus sonhos e de suas fantasias. Do homem misterioso que inicialmente o atraíra pelo anonimato, Roberto ganhara um local no seu coração pela perspicácia, pela transparência, pela acolhida que revelava. Seus pensamentos convergiam e muitas vezes casavam. Bastava um pensar e outro expressar, quando não escreviam ao mesmo tempo mesmas palavras. A impressão era de que se conheciam desde sempre.
Claro que havia diferenças entre eles, especialmente vivenciais: Senni era direto e imediatista. O tempo lhe ensinara que cada dia é um dia para ser vivido plenamente. Roberto era mais contido e preferia adiar as decisões sempre para frente. Para Senni o tempo era um inimigo implacável. Para Roberto, o tempo era o amigo que tudo resolve...
E apesar de não chegarem a um acordo sobre a função do tempo nas suas vidas, concordavam em tantos outros aspectos... E a relação continuava, fortificada pelos encontros frequentes por chat, por telefone, por mail... Assuntos nunca faltaram. Conversavam sobre tudo que se referisse a eles: Família, atividades, acontecimentos, crenças, pensamentos, fantasias, aspirações e até futebol...
Casado fazia 35 anos, Roberto afirmava estar em plena forma sexualmente e sentir mais necessidade de relações sexuais– em climatério – oferecia, o que o levava a lhe ser infiel. Solteiro convicto, Senni sentia-se insatisfeito com sua vida sexual, não pela frequência, mas pela falta de criatividade do parceiro. Não se sentia feliz.
Senni, cuja primeira motivação era sexo virtual, já não insistia nisso, pregando que deveria acontecer se ambos quisessem. Deixara claro que ele queria. Quando Roberto quisesse... Então aconteceu, cinco semanas depois do primeiro encontro, como consequência natural das conversas e dos sentimentos que os dominava. O que os uniu mais ainda...
Roberto e Senni sentiam-se profundamente envolvidos. Havia algo muito forte que atraía e impulsionava um para o outro... Isso era maravilhoso, mas também era motivo de questionamento!

... ENFIM, O REAL.

 O tempo foi passando. A relação ia se tornando mais intima e intensa. Como Roberto insistisse em não querer misturar internet com vida real, até então nenhum plano havia sido cogitado envolvendo futuro. Só que a situação começou a se tornar insuportável para ambos. Precisavam de um encontro real. Precisavam se olhar nos olhos e descobrir o que os fascinava daquele jeito, o que os atraía como imãs de polos iguais.
Enfim, Roberto concorda, e ele se propõe vir até Belo Horizonte. Um amigo de Roberto possuía apartamento ali – inclusive bem próximo do local de trabalho de Senni – e que raramente usava. Poderiam utilizá-lo.
Ainda um tanto relutante, Roberto concorda. Já que circunstâncias os estavam favorecendo, por que não aproveitar? Combinam tudo detalhadamente.
O coração dele batia muito forte naquele final de tarde de setembro, dirigindo-se para o local marcado, na entrada de Shopping Cidade. Nos dias que antecederam, passara por uma crise forte de dúvidas e inseguranças. Mas finalmente sentia-se preparado. Sabia que ia ao encontro de alguém que lhe era especial e qualquer coisa que acontecesse entre eles, se daria com o consentimento mútuo. Isso fizera serenar seu espírito, embora o coração não lhe obedecesse para bater menos forte...
O coração de Roberto também batia descompassadamente, esperando-o. Seus olhos analisavam ansioso, cada rosto de rapazes, estatura mediana, cabelos pretos, pele amorenada que passava. Sabia que logo Senni chegaria e poderia tocá-lo, beijá-lo, amá-lo... Fazia anos ninguém entrava na sua vida com tamanha intensidade e de início se achava um tanto idiota por isso. Mas acabou cedendo à paixão. Era tão bom sentir o corpo reagir, o coração disparar, o pensamento voar até Senni, e imaginar cenas eróticas qual um adolescente... Desejava-o tanto que a simples ideia de tê-lo a sua frente, como ser real, o deixava excitado.
Ei-lo chegando. Sorriu-lhe, olhando-o nos olhos.
- Roberto? - perguntou, para confirmar.
- Senni? - foi à resposta!
Um abraço forte selou o momento. Abraço que veio espontâneo, estreitando os corpos e extravasando a emoção. Lágrimas emocionadas brotaram sem que pudessem conter.
Caminham até o apartamento conversando tranquilamente. Quando a porta se fechou atrás deles, a vontade de Roberto era de tomá-lo nos braços e beijá-lo, mas sabia que teria que se conter. Sentam-se e conversam. Sentiam-se livres e à vontade na presença um do outro.
O braço por trás dos ombros deles, um carinho no cabelo, um toque de lábios, e aos poucos ele vai conquistando espaço, e Roberto entregando-se. Senni correspondia aos beijos ardentes, mas cada vez que a mão dele se insinuava, o impedia de continuar. Mas percebe a decepção e perplexidade nos olhos dele e então pensa consigo mesmo que o tem que acontecer, acontecerá. É só deixar as emoções fluírem.
Sentindo seu coração bater aceleradamente, Senni toma a iniciativa, unindo os lábios aos dele e conduzindo-lhe a mão em direção a sua coxa...

... A GRANDE DECISÃO DE SENNI.

Os dois apaixonados falavam-se diariamente, por chat ou telefone, aproveitando de todas as oportunidades que apareciam e sempre achavam pouco. Os encontros reais continuavam acontecendo, mas bem esporádicos. E por isso mesmo, eram ansiosamente aguardados e cuidadosamente planejados.
Roberto amava Senni e gostava de ficar com ele, mas sempre adotava uma série de cuidados quando ia visitá-lo, utilizando-se de desculpas plausíveis e insuspeitas para evitar qualquer coisa que pudesse magoar a esposa ou afetar sua relação com ela.
Senni, entretanto, já não fazia questão de justificar sua demora em voltar pra casa após o trabalho ou seu sumiço do expediente, quando Roberto estava na cidade. Mais do que tudo na vida, queria estar com o amado e uma ideia vai tomando forma na sua cabeça...
Senni sabia que Roberto não partilhava de seus escrúpulos e mesmo, não tinha certeza se os entenderia. Por isso, as reflexões e o amadurecimento de sua intenção aconteceram sem o conhecimento e participação dele. Sabia que a separação teria que ser uma decisão pessoal e livre, tendo como motivo que Roberto não era mais feliz com a esposa. O ter conhecido e se apaixonado por Roberto apenas poderia acelerar o processo da separação de Paulo, um velhinho que o acompanhava algum tempo. E depois, tinha certeza que o amante jamais deixaria a esposa para ficar com ele.
E se Roberto se sentisse traído, pensando ser uma jogada para obrigá-lo a se separar e assumirem um relacionamento público? E se ele se assustasse e sumisse de vez de sua vida? Mas eram riscos que tinha que assumir e enfrentar.

... ROMPENDO COM O PASSADO.

Senni chega ao apartamento dividido e organiza algumas roupas e objetos de uso pessoal em uma mala e fica a espera do telefonema de Roberto. Está nervoso. Não gostaria de ter que magoar o homem com quem vivera tanto tempo, que sempre foi bom, carinhoso e respeitoso para com ele. Mas não podia ficar enganando-o. Isso era pior do que não dizer nada.
Então, quando Paulo chega, ele comunica que está indo embora porque não se sentia mais feliz ao lado dele. Pego de surpresa, ele emudece, perplexo. Temendo perder a coragem, Senni aproveita a situação e sai da casa sem dizer mais nada.
Paulo não entende, simplesmente não entende o que estava acontecendo. Só sabe que Senni, tinha passado por aquela porta e ido embora de sua vida. Sente um vazio muito grande e pela primeira vez, em muitos anos, chora!
Sai do prédio enquanto dirigia até a pensão, onde já havia reservado um quarto, Senni luta contra as lágrimas que insistiam em descer abundantes, toldando-lhe a visão. Chegando ao quarto, cai na cama e dorme profundamente. Havia sido um dia cheio, cansativo e extenuante.
No ambiente de trabalho procura agir com naturalidade. Não comenta nada com os colegas. Afinal, ninguém tinha nada com sua vida, e o fato de ter abandonado o marido-gay não interferiria em sua atividade profissional.
Logo cedo, recebe o telefonema de Roberto para dizer que chegara bem, que fora ótimo o encontro do dia anterior e que o amava cada vez mais. Senni reafirma seu amor e nada conta de sua atitude. Esperaria uma ocasião propícia.
Paulo liga logo a seguir. Pede para conversarem. Ele reluta, não gostaria de encontrá-lo, mas não tem como recusar. E depois, se ele queria saber, a verdade era o mínimo que poderia oferecer-lhe!
Encontram-se no Bar da Praça, após o expediente. Ao ver sua fisionomia abatida, Senni perde um pouco da segurança. Mas sabe que não era momento de fraquejar. Para o bem de ambos.
Como ele se mantivesse em silêncio, Senni decide ir direto ao assunto:
- Paulo, eu estou apaixonado por outro homem. Sei que você não merece isso, mas não acho justo enganar a você e a mim mesmo, fingindo uma relação e um amor que já não existem. Você merece um cara muito melhor do que eu...
A eloquência dele o emudece. Percebe que tudo o que tinha preparado para falar iria soar no vazio... Diante de paixão, não tem como apelar para a razão. E ele não tinha mais o que fazer ali. Melhor silenciar e esperar...
- Tudo bem, Senni. Não posso obrigar você a me amar e ficar comigo. Sei que você pensou muito bem antes de decidir fazer o que fez. E está sendo honesto. Então, vá viver sua vida... Adeus!
Ele vai embora e lágrimas lhe brotam espontaneamente. Claro que doeu, afinal, foram 05 anos de relacionamento que acabavam, mas pelo menos aquilo estava resolvido.
Agora era seguir em frente, organizar-se e esperar para ver o que iria acontecer nas próximas semanas...

... O PREÇO DA LIBERDADE.

Os dias vão passando lentamente. Externamente, nada mudara. Continuava trabalhando, fazendo as mesmas coisas de sempre, e ao final do dia, ia para a pensão. Mas interiormente, sentia-se muito só. Por mais entediante e rotineira que era a sua vida ao lado de Paulo, pelo menos ele tinha companhia, vizinhos e vida social...
 Até que um telefonema de Roberto dá alegria ao coração de Senni e lhe provoca expectativas: ele previa uma visita para os próximos dias. Como ele ansiava abraçá-lo, sentir-se segure e protegido nos seus braços!
Encontram-se no final do expediente, e como sempre, vão para o apartamento desocupado do casal de amigos. Depois do sexo, ficam juntos, conversando, sem pressa... Como escurecera e Senni não fizera menção de ir embora ele a questiona.
Senni acaba contando que estava separado. E que agora poderiam ficar juntos o tempo que quisessem, sem se preocupar com horários.
A notícia tem o efeito de um balde de água fria na cabeça de Roberto. Era certo que amava Senni com toda a intensidade de seu coração. Mas não esperava por isso. Não lhe passara pela cabeça separar-se. Mas Senni o fizera, e não tinha dúvidas, era por causa dele.
Percebendo-o transtornado, Senni o abraça carinhosamente. Afirma que tudo continuaria como sempre fora. Que nunca cobraria nada e que se contentaria com aquelas horas que ele dispunha para estarem juntos.
Depois de inteirar-se dos detalhes de sua situação: onde morava, com quem, desde quando, quem sabia etc., recrimina-o por não lhe ter contado logo da separação.
Roberto concorda que Senni passe a noite com ele no apto, mas foi, para ambos, uma noite insone, cada um deles mergulhados em seus pensamentos e temores. Bem diferente da noite que sonhavam passarem juntos!
De manhã, Senni sai para o trabalho, deixando Roberto dormindo... Ou fingindo dormir. Vai com o coração pesado... Sente que ele não gostara nada do fato dele ter-se separado sem consultá-lo e, depois, sem comunicá-lo. Teme que ele decida romper a relação e se afastar dele para sempre.
Foi difícil concentrar-se no trabalho. A manhã termina sem notícias. E Senni não teve coragem de tentar estabelecer contato. A angústia se torna maior a cada volta do ponteiro...
No final da tarde Senni decide enfrentar a situação e quando ia telefonar, seu ramal toca. Era ele, pedindo para fosse ao apartamento depois do trabalho. Pelo tom de voz, percebe que o assunto era muito sério. E sente-se inseguro e temeroso. Mas sabe que, fosse qual fosse o veredicto que Roberto iria lhe impor, teria que aceitar e respeitar.
E neste momento lembrou-se de Paulo, e do que havia feito a ele... Agora era sua vez de acolher uma decisão referente à sua vida, mas deliberada exclusivamente por outra pessoa...


... TEMPO DE SER FELIZ.

Tocar o interfone, subir no elevador e entrar no apartamento, foram atitudes mecânicas. Só quando se viu frente a frente com Roberto, sendo acolhido de maneira carinhosa, foi que Senni conseguiu respirar mais aliviado e com alguma esperança:
- Eu refleti seriamente sobre tudo – ele informou. – Sei que sua decisão foi baseada no que sente por mim e não vou deixar você enfrentar isso sozinho. Eu vou ficar com você. Claro, se você quiser ficar comigo.
Os olhos dele brilham de alegria e um beijo apaixonado sela o compromisso entre eles.
Mais tarde daquela noite, Roberto viaja para Divinópolis, prometendo que logo retornaria, e definitivamente.
A rotina se restabelece só que agora cheia de expectativas. Roberto telefonava todos os dias, afirmando e confirmando seu amor, e prometendo que em breve tudo se arranjaria.
Em um destes telefonemas Roberto faz uma proposta irrecusável: lua de mel na Europa, com partida quase que imediata. Senni concorda feliz... Tinha certeza de que seria um tempo maravilhoso: romântico, e inesquecível...
Férias requeridas, passaporte em mãos, passagens confirmadas, reservas em hotéis na agência de um tal Guto... Em questão de semana tudo se arranjara e estavam de malas prontas para embarcar.
Foi na França, primeiro parada do roteiro, que Senni se quedou encantado com os jardins de tulipas, em quantidades que jamais sonhara ver juntas. Roberto deliciava-se com a juventude que Senni irradiava nesses momentos de euforia, e grato por ter aquele belo rapaz ao seu lado. Mas foi também ali que o primeiro incidente desagradável aconteceu. Um homem que vê o extasiamento de Senni lhe oferece tulipas. Senni aceita, admirado e feliz. Por não conseguir expressar-se verbalmente na língua dele, utiliza afetada linguagem gestual para agradecer, o que irrita Roberto, que fica resmungando e ao mesmo tempo alertando-o para tomar cuidado com o homem francês, famoso pela sutileza nas atitudes e conversas cheias de lábia. Senni percebe o ciúme emergente, e se esmera em carinhos. Aparentemente tudo volta ao normal.
Um segundo incidente se dá alguns dias depois, quando Senni prova uma camisa, que faz menção de adquirir e Roberto não concorda. Senni insiste, e ele se mantém inabalável. Senni tenta disfarçar a frustração, mas se sente magoado. Tem noção de que é Roberto quem está pagando tudo, e não pode negar que ele tinha sido muito generoso até então, incentivando-o para comprar tudo o que lhe agradasse... Até então Roberto o fizera sentir-se um rei... Por que agora lhe recusara aquela camisa?
Nem ele mesmo sabia o  por que... Gostava de mimá-lo, fazendo-lhe todas as vontades, mas quando o viu com aquela camisa sentiu-se atingido. Não que fosse feia muito pelo contrário: caia como uma luva no corpo de esbelto de Senni desnudando-lhe generosamente os ombros, deixando-a extremamente sensual.
Senni telefonava frequentemente para a família, e algumas vezes também falava com Paulo, com Mario,Carlos e enviava para a Prima abraços e  saudações, o que estranhamente não afetava Roberto.

Do mesmo modo ele também telefonava para a família. Senni até perguntara como havia transcorrido o seu processo de separação, mas sentindo-o reticente respeitou. O que importava era que ele estava ali com ele, os dois, e para sempre.
Tirando alguns outros pequenos incidentes, envolvendo ciúmes de Roberto, mas logo superados, a viagem e a estadia em cada local foram maravilhosas. Era tão bom sair com Roberto à luz do dia, andar de mãos dadas, namorarem-se em público, sem precisar esconder a euforia do estar junto, sem camuflar sorrisos e toques, ser um casal em cada momento e situação...

... ILUSÃO X REALIDADE.

Decidem passar a quarta e última semana no Brasil, onde poderiam descansar melhor. A viagem pela Europa, apesar de boa e aprazível, deixara-os cansados e ansiosos por um tempo a sós, para relaxar.
As primeiras semanas na Europa foram de euforia, mas à medida que o tempo foi passando, Senni se sentia dominado por uma melancolia incontrolável. Atribuem isso ao cansaço da viagem, pois ele mesmo se sentia assim, e pensou que a semana de descanso no Brasil faria com que Senni voltasse ao normal.
Alojados num aconchegante hotel-fazenda, usam o tempo para dormir e relaxar. Mas mesmo assim Senni não se sentia melhor. Perdera o gosto de ficar com Roberto, de conversar, de brincar, de rir... Até mesmo o sexo se tornou mecânico, e muitas vezes, sendo evitado com desculpas de cansaço, o que começou a irritar Roberto, e a deixar Senni mais ansioso ainda.
Na 6a feira, Roberto decide fazer uma longa caminhada pela mata circunvizinha do hotel, também para pôr em ordem seus pensamentos e sentimentos. Deixa Senni sozinho, que aproveita para também refletir seriamente na vida e no futuro.
Roberto caminha vigorosamente, sentindo o sol arder em suas costas, mas não liga... Um turbilhão de pensamentos o invadia e lhe tirava a paz.
Não tem como negar que Senni já não era o mesmo, e alguma coisa de muito sério estava acontecendo com ele. Amava-o mais do que tudo e queria que ele fosse feliz. E estava nítido que isso não estava acontecendo. Será que estava arrependido?
E Roberto, como se sentia com relação a tudo aquilo? Como homem prático, depois de ter assumido Senni não pensou mais nos próprios sentimentos. Mas não podia negar que sentia falta da rotina de sua vida ao lado da esposa, filhos e netos. Que muitas vezes lembrava-se deles com saudades, querendo estar lá... E talvez este sentimento influenciasse na atual relação, e atrapalhasse o convívio com Senni. Mas não tinha este direito. Senni havia deixado tudo por ele. Faria de tudo para torná-lo feliz.
Quando retornasse ao hotel conversariam e resolveriam tudo...
Senni tentou se concentrar no livro que tinha diante dos olhos, mas não conseguia. As palavras permaneciam sem sentido, por mais que as lesse. Seu pensamento voava longe. Pensava em Paulo e na história que escreveram juntos naqueles 05 anos de matrimônio que, se não foram perfeitos, foram muito bons. Lágrimas margeiam seus olhos. O que daria para voltar atrás no tempo e poder mudar o que havia feito...
Roberto era um ótimo homem, amava-o, mas era diferente. Com Paulo havia toda uma convivência, carinho... Por que fizera aquilo? Agora tinha que assumir o feito! Ele suspirou longa e profundamente. Faria Roberto feliz já que ele havia largado sua família por causa dele.
Quando Roberto voltasse iriam conversar. De maneira muito explícita dizer o que sentia e por que. Para que entre eles tudo fosse muito sincero. E que tentaria superar tudo para que tivessem uma vida tranquila e feliz juntos.

...A VIDA É FEITA DE RECOMEÇOS.

 À noite, após o jantar, Roberto e Senni sentaram-se frente a frente. Foi ele quem começou, pedindo desculpas pela sua impaciência, explicando que lá na sua cidade vivia rodeado pela família, tinha vida social, suas atividades e amigos. Que às vezes sentia falta de tudo aquilo. E que precisava de tempo para se acostumar a esta nova vida.
Senni, incentivado, fala das saudades que sentia de Paulo e dos parentes, da vida em comum, das saídas com amigos.
Mas que estava disposto a deixar tudo para trás e fazê-lo feliz.
Foi quando ele fez a pergunta que poderia alterar a vida de ambos para sempre, mas que não podia ser calada:
- Você está arrependido, Senni?
Ele ia argumentar, mas Roberto o segurou fazendo que olhasse nos seus olhos:
- Sem pensar em impossibilidades... O que o seu coração está dizendo agora?
Olhando bem dentro daqueles olhos azuis, Senni não tinha como mentir. E nem quereria fazê-lo:
- Que gostaria de estar em casa, ao lado de minha família... – fala, com certa vergonha... – Mas olha, é só um...
Ele não deixou que Senni continuasse. Abraçou-o forte.
- Também estou me sentindo assim, Senni. Sinto tanta falta do meu pessoal!
- Mas venceremos isso, tenho certeza! – ele diz, com convicção.
- Você quer mesmo superar? – ele perguntou.
- Claro Roberto... Estou com você, e quero ficar com você! – ele sabia que era esta a resposta mais decente. Mas não tinha tanta certeza disso!
- Senni, querido! Eu amo você e por isso mesmo, acima de qualquer outra coisa, eu quero lhe ver feliz. Se você tem alguma dúvida de sua decisão, talvez não seja tarde demais para voltar...
Ele viu em seus olhos um lampejo de esperança. E compreendeu. Uma pontada no coração lhe anunciou que sofreria de perdê-lo, mas ele também tinha pra quem voltar. E de maneira mais serena do que Senni. Afinal, dissera à família que precisava de um tempo para ficar só e pensar na vida, e nada falara de separação ou outra mulher. Para ele seria chegar em casa e partir para o abraço. Já com Senni, seria mais difícil. Mas não impossível...
- Voltaremos amanhã e estarei ao seu lado pra tudo que precisar... E se não precisar, saberei sair de seu lado e deixar que siga seu caminho! – ele conclui, beijando-lhe a testa.
Ambos telefonar foram. Senni escutou Roberto conversando com a esposa de maneira carinhosa, falando de saudades e certezas.
Senni diz a Paulo que sentia a falta dele e que agora começara a ver as coisas com outros olhos. Que gostaria que ele o escutasse.
Na manhã seguinte fizeram um passeio a cavalo juntos. Depois almoçaram, arrumaram as malas e seguiram até o aeroporto, onde embarcaram em voos diferentes. Desejam-se boa sorte mutuamente, e recomenda-se, meio na brincadeira, juízo.
Roberto encontra a esposa à sua espera, no aeroporto. Quando ela lhe pergunta como estava, responde que “em paz”... E era isso que lhe ia ao coração. Paz! Sabia que havia tomado à decisão certa!
Paulo esperava por Senni no portão de desembarque. Ao vê-lo seu desejo era de abraçá-lo e lhe pedir perdão, mas sentia medo. Foi quando Paulo o viu e lhe sorriu, abrindo-lhe os braços em acolhida. E Senni não teve dúvidas... Estava em casa novamente...
                                         
                               FIM


                Postado por Uschuaia Dean Segunda 27 de Fevereiro 2012.

Um comentário:

VOCÊ PODERÁ GOSTAR DAS MENSAGENS ANTERIORES...