terça-feira, 1 de maio de 2012

O HI FI É COMO UM CIRCO


                                          Foto Pessoal 2011

Qualquer um ali se faz artista sem temor! Dando o corpo ao manifesto, avançando além dos limites, com uma ideia cozinhada, uma suposta cambalhota preparada, uma só palavra que fosse à ponta da língua!De ultima da hora o rapaz avança para o ataque bem ao centro de um olhar qualquer e a única coisa que lhe garantiram foi que os holofotes iriam iluminar, fazendo-lhe notar que essa, seria uma bela oportunidade de brilhar, de mostrar o que valia entreter e fazer rir, ou até, e porque não o fazer chorar!Impressionar seria preciso e tocar em frente!
No íntimo quer apenas diversão, não fosse os artistas começar a peleja, o que era muito mau, atendendo à fragilidade da estrutura dos homens que bancam os mais ordinários...
Observando na dele, porque, o artista de serviço, o garçom com um número bem estudado, ao ver-se a criatura Janete enleada nas cordas e argolas que tinha largado na mesa, sentiu o copo quebrado como arame a fugir debaixo dos pés e, sem cerimônias, abaixou-se e recolheu os cacos, segurando uma vasoura na mão esquerda, enquanto a pazinha era objeto feito guincho que o livrava de se estatelar e em silêncio  afastou-se como num  final de número.
 Entre olhares atônitos e mostrando-se armada dos pés a cabeça, Janete deu outro trago no cigarro, numa golada só desceu a cachaça com sabor goela abaixo.
Surpreendentemente, o espetáculo  da noite de sábado ganhou cor com este artista que ficou e que tocava numa caixa de fósforos um sambinha manjado de Elza Soares ,a sua  preferida e como instrumento dava risadas que mais pareciam cambalhotas direitas e tortas e, destemida, quase sem dentes ia ao balcão bebia outra caninha e  pronto a fazer –se de bala humana,como se tivesse num campeonato circense, mas os a carcarás também acrobatas que o acompanhavam, incapazes de lhes seguir os passos, os golpes de rins e os voos sem rede, cedo deixaram o número se perder... Uma após outra vez, falharam na recepção, no compasso, soltaram o riso sádico, deixaram cair ao chão sua argola e as mascarás e, por último, os que brincavam com fogo cuspiram labaredas, acabaram por se incendiar uns aos outros e causando pânico o veneno de Flor, de Bodinho, da Sandra Rosa, de outros tantos que se dizem gente...
O espetáculo poderia ter sido melhor, está mais pobre! Dizem que é para ser mais seguro não deviam dar atenção à criatura que iluminava a noite de alguns poucos rotineiros e preconceituosos ilusionistas, que tiram da cartola uma sacola vazia com quem se dirige ao público a quem pede para enchê-la de grana, de afeto ou simplesmente querem sexo barato, sujo e nojento... Um número de ratos amestrados que são pisoteados na pista com as orelhas em baixo... E, claro... Uma porção de palhaços!... O rico pagando e o pobre, que, como sempre, passa o número a alguma nota estalada, tão depressa chora, baba,salta, ri e toca a concertina... Feliz de Flor, pois Dondinho acaba de chegar e quer receber um rebuçado abraço.
É ali que carcarás voam sem sairem do chão, baratas andam de carros e alguns palhaços alimentam metáforas regozijando-se enquanto o garçom discreto fica a observar.
É no Hi Fi que o bem-te-vi tem brilho frágil, as popotinhas equilibram em cadeira em uma perna e lácraios aceitam quaisquer restos de corpos disparados feito canhões onde já não funcionam mais os Onassis...
A cada dia ficam mais arriscados e surpreendentes os novos números, onde os lucros já não são tão permitidos alguns arriscam lucros fáceis como se fosse só chegar e sacar feito sem pagar impostos num espaço apertado de quem confesse não querer enriquecer de boa...
Se um equilibrista consegue flertar e roubar um olhar, logo se vê obrigado a fugir, pois aparece algum domador de plantão querendo pagar mico tocando violino ou oferece o corpo como instrumento de uso...
Assim é a vida noturna no HI FI, um circo com coelhos espertos que saem bravamente da cartola... Feitos diretores de circo, senhores carecas, magros, altos, gordos e cabeludos financiam malabaristas, enquanto verdadeiros palhaços andam com olhares distantes, seus parceiros distribuem roupas, calçados, presentes e até carros aos fantásticos garotos do globo da morte. Adestram as pombinhas, os bambis e até jacaré enche a cara nos vinagres que distribuem feito vinho... Quanta solidão a quem convém, e há quem vem de bicicletas!
E pela quantidade de porquinhos, gansos, galinhas, vacas, elefantes e até girafas sou levado a acreditar meu desafio de compor alguma coisa seja largamente superado, por isso que deveria ter grana para tosquiar ideias, vigiar ouvir, estar em cima do lance, estar sempre por cima que é bom demais, acho que é dom, pois me disseram que estou acima de tudo isto...
 Mas que meu quintal favorito é mesmo o HI FI isto é, sendo ou não circo, sendo igreja, sendo colégio ou sala de apresentações, creia o HI FI nunca mais será o mesmo quando eu partir...

   USCHUAIA DEAN, DOMINGO 22 DE MAIO 2011.

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