sábado, 2 de junho de 2012

O ACSO


                         

A noite está amena, a praça está linda com o chafariz ligado e a lua com o ar maroto me avisou que ia ver alguém...
Foi mesmo o acaso. No princípio não reconheci, mas depois de olhar bem no fundo das tuas palavras, reconheci de imediato. Vi logo quem era o Carcará. Eu sei que andas a navegar entre algumas certezas e muitas de vidas, que umas vezes me tinhas ali, como se eu fosse real e de repente sentias aquela angustia provocada pela incerteza.
Achei ainda mais interessante do que da última vez. Apareceu assim de repente, de boné claro, a  camisa amarela e eu mesmo fiquei um pouco perplexo pela tua aparição repentina.
Sabes bem que já não sou o mesmo, o meu coração já não é o mesmo de antigamente e ainda por cima apareceu disfarçado.
E tudo por causa do meu aniversário. Mais uma confusão, mas isso já não é de admirar, você próprio confessa aos quatro ventos que és perito em me encher o saco, mas afinal se quisesse antecipar os meus anos, que fosse ao dia mais longo de minha vida Mas, afinal de contas são contas e não vou perder  estes dias,só  porque és apressado. Mal me viu, tirou o boné e perguntou com ar feliz de quem não se esquece:
- Diga uma coisa, faz favor, não recebeste um email de um desconhecido? Ou recebes muitos?
Essa do recebes muitos estava contaminada com uma pequena dose de ciúme. Fiz de conta que não notei o alcance da pergunta, até porque eu não estava mais interessado em saber se gostavas de mim ou não. Sabe como são os homens, uns mimados, sempre a espera de piedade, como se os outros fossem obrigados a andar com os homens ao colo. Mas gostei de te encontrar, tive oportunidade de ver algumas das tuas rugas, não às fixei bem, apesar de me dizer que não és mais a mesma pessoa de há quase três anos atrás. Mas olha que está muito bom, sim senhor, desculpa esta linguagem, mas estamos com muitos rodeios, quando o homem é interessante, a gente diz logo olhos nos olhos, e precisava tirar o boné, porque eu gosto mesmo de olhar nos olhos quando te digo que já nem sei mais quem és.
Sabe como eu andava desnorteado com a tua ausência. Vê-lo ali de repente foi uma benção dos céus. Por isso deixei os meus olhos passearem pelo teu corpo, mas como eu não estava de boné apanhou-me com a boca na botija, como quem diz, com os olhos postos no emblema do teu polo, tentando descobrir as formas que se escondias por dentro do amarelo da tua camisa. Coisas de homens, tu bem sabes, mas eu ia perder a oportunidade de observar esse teu metro e setenta, e poucos de altos e baixos, e como há meses que ando na abstinência do meu lado mais pecaminoso, reagi assim de repente, e tive que meter as mãos nos bolsos,você sorria vendo a minha trapalhada.
Prometo que não torno a suceder, foi o impacto da primeira vez, ainda por cima me chamou de doido como quem diz você já tem juízo.
Fiquei contente por me dizer que uma tarde destas voltamos a encontrar-nos por ai de preferência antes do inverno acabar. Eu também sinto essa vontade. Sabes também ando precisando de ar fresco, como quem diz ando precisando mudar de ares, embora como saiba, estou agarrado a esta pasmaceira, a este norte ventoso.
Gostei de te ver, volto a confessar. Quem sabe numa tarde destas voltamos a esbarrar um com o outro.
Beijos, beijos de amizade (às vezes não são tão saborosos, são beijos assim, assim, sem aquela loucura do tesão,do desejo de possuir um ao outro.)
Mas, não perdi a oportunidade de beija-lo novamente...

                                         Ushuaia Dean, 13 DE JULHO 2011.

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