sábado, 2 de junho de 2012

FLOR BASTARDA


                 
A decepção tem um gosto salgado, como carne de carneiro mal assada. Assim como essa falta de tempo, essa desculpa de buscar, de querer ser alguém neste temido mundo, não uma máquina que fica perdida no tempo. Defesa estratégica e ecologicamente colocada entre os pares de olhos tão diferentes, tão atônitos quanto às teclas que repico para escrever. Assim Flor na sua ilusão tem estado ocupada perdendo a identidade. Quase sempre sem noção do real e misturando na multidão nas manhãs de sol e frio. Tornando-se o que o espírito sempre se recusou a ser: comum. Tão comum a ponto de se tornar Invisível mesmo sentado à beira do caminho. O Invisível é comum em cada despedida. Amor, saudade, sexo, dinheiro, brigas, adeus e tristezas, infravermelho, amarelo, verde e prantos. Uma vez sentido, é impossível voltar. Irresistível como a parede de café, que escorre até secar e se tornar imóvel. Amargo como o grito na noite fria ou como a bílis de criança em mares quase pacifico. Completamente perdido está. É uma droga que vicia e mata. Veneno forte e estonteante fica a alma. O não visível te traz de volta para onde tudo começou: no vazio do HI Fi entre olhares insatisfeitos em estado ocupado perdendo o controle da vida. Perdendo a noção do tempo,sem saber a falta que o outro lhe faz. Esperando demais. As cores infantis não lhe cabem mais e as paredes pedem um tom mais sério. Creme. As mãos sofriam por outras duas, longe daqui que, para sempre estarão, não onde os dedos terminam, mas onde a fumaça encontra o ar.
DoNA não quer que olhem pela janela do carro e não vejam mais nada quando ela passa na rua. Não quer a sombra que as pessoas que vê usa como uniformes coloridos. Não quer mais mudar por causa das raízes e folhas de Flor. E talvez até seja uma idiota por se deixar controlar. E talvez seja um hipócrita por deixar parti-la de seus braços. Mas certamente é uma perdedora por se deixar desaparecer...
Ushuaia Dean, terça feira, 07 de Junho 2011

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